Jornada de trabalho reduzida
De tempos em tempos presenciamos revoluções nos modelos de trabalho, como, por exemplo, em 1922 quando Henry Ford definiu 5 dias de trabalho ao invés de 6 ou em 1926 quando o mesmo colocou como norma as 8 horas diárias de trabalho em sua empresa, assim influenciando o resto do mundo a adotar o mesmo formato.
A semana de trabalho de quatro dias úteis é uma dessas revoluções, uma nova forma de se pensar a semana produtiva que vem ganhando força nos últimos anos, especialmente no período pós pandêmico. Nesse novo modelo se trabalha por 4 dias e se folga por 3, totalizando 32 horas trabalhadas semanais. A maioria dos lugares que vem adotando a prática tem folga nas quartas ou sextas-feiras, mas isso irá depender da empresa, e da escala que funciona melhor para tal.
A discussão de uma jornada de trabalho menor surge depois das pesquisas apontarem os malefícios de se trabalhar demais e os impactos negativos que isso tem na saúde mental e física dos colaboradores, além do aumento expressivo dos casos de burnout por conta do estresse do trabalho. Especialmente depois da pandemia de covid-19 esse maior cuidado com o colaborador, por parte da empresa, se tornou essencial.
Dessa forma, o argumento que sustenta essa nova ideia é a melhoria da saúde e do bem-estar do colaborador, que teria mais tempo para sua vida pessoal e que com menor pressão e cansaço conseguiria manter a mesma, senão maior, produtividade, mesmo com menos tempo para fazer suas atividades. A questão da produtividade nesse novo modelo se baseia na chamada Lei de Parkinson, criada pelo historiador Cyril Northcote Parkinson, que acredita que, o trabalho se expande de forma em que preencha o tempo disponível para sua realização, ou seja, uma mesma tarefa pode ser feita em menos tempo, tudo é uma questão de organização e reavaliação de processos que por vezes, diminuem o rendimento.
Para as empresas, as vantagens seriam a menor rotatividade de colaboradores, corte de custos, e a atração e retenção de talentos, já que os candidatos estão cada vez mais em busca de empresas com uma jornada menor e mais flexível, em que consigam ter um maior equilíbrio entre as suas vidas pessoais e de trabalho.
Países como Austrália e Canadá já vem testando esse novo formato, no Reino Unido, por exemplo, está sendo realizado um experimento com cerca de 3.300 trabalhadores de diversas empresas, desde companhias de software até restaurantes, nesse experimento, os colaboradores não terão redução do salário, apenas das horas trabalhadas e o intuito é monitorar os benefícios desse novo formato e também, se a produtividade está sendo mantida. A 4 Day Week Global é a ONG responsável por esse projeto, que foi co fundado por Andrew Barnes, que em 2018, após ler muitos artigos sobre produtividade, implementou o modelo com 240 dos seus colaboradores na época, os resultados foram avaliados pela Universidade de Auckland, e mostraram que os níveis de engajamento subiram 40%, o balanço entre vida pessoal e profissional aumentou 44% e o compromisso organizacional subiu 29%.
No Brasil, algumas empresas começaram a testar a jornada de quatro dias por conta própria, localizada em Franca (São Paulo) a empresa de tecnologia NovaHaus, depois de um ano de planejamento e estudos, está fazendo um teste desde março e que irá até outubro, de início, eles já apontam que o ponto positivo foi a diminuição da rotatividade de colaboradores em 100%. A fluminense Winnin, também adotou o modelo no ano passado, e depois de análises e pesquisas divulgou que houve uma melhora de 17,33% no equilíbrio entre vida pessoal e profissional dos colaboradores, além de um aumento da produtividade em 5,68%.
Um dos desafios de se adotar esse formato, seria a implementação do modelo para todas as áreas produtivas e níveis hierárquicos. Setores como finanças, TI, software e serviços profissionais, teriam uma maior facilidade para fazer essa transição. Já setores de dependam mais do trabalho braçal, áreas de varejo, hotelaria e manufatura, que não possam ficar um dia completamente fechados, e mesmo assim queiram adotar essa jornada, seria preciso fazer novas contratações ou criar um esquema de escalas que fosse funcional para a empresa, o que pode vir a ser um desafio para as áreas de recursos humanos e logística.
É claro que é preciso avaliar o modelo de negócio e analisar se essa mudança é pertinente para a empresa, qualquer modificação deve ser testada primeiro, e necessita de muito planejamento e estudos, e de preferência com uma consultoria de alguém que entenda do assunto. A comunicação com os colaboradores também é necessária em todas as etapas, é preciso entender quais são as reais preocupações deles e quais melhorias podem melhor atendê-los.
Thaisa Grossmann - Produção de conteúdo Brasil Convênios.